Viver na periferia permite a quem nela está inserido, ver o mundo sob uma perspectiva complementarmente exclusiva. Só quem anda em transporte coletivo, por exemplo, sabe como é conviver com pessoas de diversos contextos sociais em um ambiente tão comprimido e miscigenado. Recentemente ao voltar da faculdade, enquanto observava o comportamento de duas crianças de uma escola – particular e conceituada –, notei um garoto de aparência simples e modesta entrar no ônibus, pela porta ao lado das outras duas crianças. As três, tinham aparentemente a mesma idade, mas claramente tinham vidas diferentes. Em função do transporte no qual elas utilizavam e para onde estavam indo, é fácil deduzir que as crianças da escola particular não são de família abastada, porém, percebe-se que ambas têm oportunidades que muitas outras crianças não têm – como uma escola que lhe ofereça além de um bom ensino, ocupações em tempo integral, com atividades para o seu desenvolvimento pessoal, intelectual e saudável –.
A criança que entrou na metade da viagem estava com uma caixa de doces na mão, e saiu distribuindo-os e pronunciando um discurso decorado e que claramente não foi elaborado por ela, perceptível graças ao emprego de palavras complexas para alguém daquela idade e com aquela condição social. Claramente, palavras para tentar conquistar um cliente. Palavras que deve ter aprendido através da força da necessidade, a fim de contribuir financeiramente para o seu núcleo familiar. O meu sentimento ao vê-la, foi de querer ver aquela criança fardada. Vê-la àquele horário em um coletivo, mas por estar voltando de um dia de estudos e atividades na escola, e não saindo à procura de sustento para o seu núcleo familiar.
Nesses momentos sinto que a meritocracia deve ser considerada, mas somente quando o indivíduo que estiver em questão tiver oportunidades de crescer.
É difícil desejar que alguém progrida, se não lhe oferecem condições para isso.
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