segunda-feira, 29 de agosto de 2016

E as desigualdades seguem presentes...

Viver na periferia permite a quem nela está inserido, ver o mundo sob uma perspectiva complementarmente exclusiva. Só quem anda em transporte coletivo, por exemplo, sabe como é conviver com pessoas de diversos contextos sociais em um ambiente tão comprimido e miscigenado. Recentemente ao voltar da faculdade, enquanto observava o comportamento de duas crianças de uma escola – particular e conceituada –, notei um garoto de aparência simples e modesta entrar no ônibus, pela porta ao lado das outras duas crianças. As três, tinham aparentemente a mesma idade, mas claramente tinham vidas diferentes. Em função do transporte no qual elas utilizavam e para onde estavam indo, é fácil deduzir que as crianças da escola particular não são de família abastada, porém, percebe-se que ambas têm oportunidades que muitas outras crianças não têm – como uma escola que lhe ofereça além de um bom ensino, ocupações em tempo integral, com atividades para o seu desenvolvimento pessoal, intelectual e saudável –.
A criança que entrou na metade da viagem estava com uma caixa de doces na mão, e saiu distribuindo-os e pronunciando um discurso decorado e que claramente não foi elaborado por ela, perceptível graças ao emprego de palavras complexas para alguém daquela idade e com aquela condição social. Claramente, palavras para tentar conquistar um cliente. Palavras que deve ter aprendido através da força da necessidade, a fim de contribuir financeiramente para o seu núcleo familiar. O meu sentimento ao vê-la, foi de querer ver aquela criança fardada. Vê-la àquele horário em um coletivo, mas por estar voltando de um dia de estudos e atividades na escola, e não saindo à procura de sustento para o seu núcleo familiar.
Nesses momentos sinto que a meritocracia deve ser considerada, mas somente quando o indivíduo que estiver em questão tiver oportunidades de crescer. 
É difícil desejar que alguém progrida, se não lhe oferecem condições para isso.

Bolsomitos x Bolsominions: onde eu me encontro em meio a essa discussão?

Frequentemente vejo conflitos entre os que se dizem pró vs os que se auto intitulam contra Jair Bolsonaro. Até o presente momento, eu não tinha manifestado o meu ponto de vista sobre o assunto. Então aqui estou e o farei agora. Bolsomitos x Bolsominions. Bastante cômico isso. Eu sou esse x, exatamente no centro da discussão. Deixem me explicar porque. Primeiramente o que tenho a dizer é que em nada me afeta se Jair Bolsonaro se candidatar à presidência ou não. Se ele o fizer e ganhar as eleições, particularmente, eu não tenho porque ser contra. Mas eu – empregado, universitário, heterossexual e de pele clara – sou suspeito a falar. Devemos lembrar que o presidente é um representante do povo no poder executivo. Devemos lembrar também que vivemos em uma sociedade. É evidente que nenhum candidato irá agradar todo mundo, pois ser humano nenhum é capaz disso. Mas sabemos que ele não representa uma parcela cada vez mais crescente da população (jovem principalmente). Logo, individualmente falando, ele poderia ganhar tranquilamente, já que suas propostas e discursos não me afetam diretamente. Seria interessante até, mudar o padrão de detentor do poder de líder máximo do executivo. Mas aí vem o ponto: é por causa de individualidades que a sociedade está decaindo e perdendo a sensibilidade humana, cada vez mais. Individualidade de posses e patrimônio utilizados em discurso da direita eu tenho e muito, pois sou capitalista. O que eu não tenho é o desejo de manter um posicionamento único no poder de uma sociedade cada vez mais mista. O problema não é ter posse. O problema é ter e não compartilhar. A solução não é aprender muito. A solução é aprender e compartilhar. Multiplicar. Esse é, para mim, o x da questão. Pensar no próximo a fim de proporcioná-lo condições de mudança e progresso, independentemente do que esteja em discussão. Vejo povos de países de direita como individualistas demais. Isso é bom, pois estimulam o investimento e fazem tudo funcionar. O problema é esse "demais". Essa individualidade demais causa o distanciamento entre as pessoas – em alguns casos cria o extremismo, criando bases até para guerra – coisa que não cabe em um país de povo tão unido como o povo brasileiro. É tanto que fica até difícil segregar uma sociedade que foi gerada através de misturas étnicas. Não dá. Aqui ninguém é puro de uma raça única. Não dá para pensar apenas em si.